quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Embaixo da Macieira - Gabriela

Eu fiz uma história mudando o foco narrativo de um dos capítulos do livro Alice no País das Maravilhas. Espero que gostem! É a história do lado do Camundongo.

Meu nome é Peter Camundongo, moro embaixo de uma grande macieira, é um local muito agradável, com as maçãs que caem no chão minha mulher Lucy faz tortas deliciosas. Neste ano minha mulher começou a ficar gorda, barriguda, ou seja, ela inventou de ficar grávida, sete ratinhos pelados saíram da barriga dela, eles comem muito, bebem leite adoidados, já destruíram metade da casa, o compadre Caxinguelê às vezes busca comida pra mim, pois não temos tempo quando eles começam a mastigar o sofá.

Certo dia, estavam todos dormindo, mas dormindo mesmo, roncavam tão alto que dava pra ouvir do castelo da Rainha de Copas, e eu sei pois ouvi ela gritar:

- Que barulho é esse?!Que ronco horrível!Foi você?!CORTEM-LHE A CABEÇA!

Aproveitando que estavam dormindo fui adiantar o almoço, estava pensando em um peixe com queijo prato, ou um bife com provolone. Não sabia ao certo, mas seria algo especial. Saí de casa, andei um pouco e me deparei com uma grande lagoa, como o mercadinho era do outro lado e estava com calor resolvi atravessá-lo a nado mesmo, água quentinha e salgada. No meio da lagoa encontrei uma garotinha loira, vestida de azul e branco, ela abriu a boca e desatou a falar:

- Ó camundongo, sabe como se faz para sair desta lagoa? Estou muito cansada de ficar nadando para todo o lado, ó camundongo!

Lancei um olhar um tanto inquisitivo e não disse nada, pois só digo quando sei o que dizer.

-Oú est ma chette?

Gato?! Ela disse gato?! Ora eu tenho medo, muito medo de gatos, pulei pra fora d’água e comecei a tremer.

- Oh, desculpe-me! Esqueci completamente que você não gostava de gatos!

- Não gostar de gatos! Você gostaria se fosse eu?

- Bem, talvez não. Não se zangue com isso. Mesmo assim, gostaria de poder lhe mostrar nossa gata Dinah: acho que começaria a ter uma quedinha por gatos se ao menos pudesse vê-la. É uma coisinha tranqüila, tão querida, se senta ronronando tão bonitinho junto da lareira, lambendo as patas, limpando o rosto... E é tão formidável pra pegar camundongos... Oh, desculpe-me!

Tremendo em cima de patas bambas lá estava eu, ouvindo as falsidades de uma menina iludida pelos bigodes de um gato asqueroso.

- Nós não falaremos mais sobre ela, se você prefere.

- Nós, é claro!- gritei indignado. Precisava buscar o almoço para os filhotes- Como se eu fosse falar de um assunto desses! Nossa família sempre detestou gatos: criaturas nojentas, baixas, vulgares! Não me faça ouvir esse nome de novo!

- Pode estar certo que não! Por acaso você... gosta... de...de cachorros?

Olhei pra ela sério com olhar de não, mas pelo jeito ela não entendeu, pois continuou e ainda por cima bem animada:

- Há um cachorrinho tão lindo perto da nossa casa, gostaria de lhe mostrar! Um terrier pequenino, de olhos espertos, sabe, com oh! Um pelo marrom tão encaracolado! E ele apanha as coisas quando a gente joga e se senta e pede seu jantar, essas coisas todas... Não consigo me lembrar de metade delas... E o dono dele, um fazendeiro, sabe, diz que ele é tão útil que vale uma centena de libras! Diz que mata todos os ratos...ai, ai!

Estremeci. Por que todos os humanos odeiam tanto os camundongos? Somos fofos, marronzinhos, às vezes brancos de olhinhos vermelhos, mas... Fiquei pensando... E se esse cão fugir do mundo dele e vir pra o meu? Ai! Que meeeeeeeeedo! Me afastei rapidamente dela nadando o mais rápido que pude.

- Querido Camundongo, volte aqui e não falaremos mais de gatos nem tampouco de cachorros, se não gosta deles!

Fiquei com pena dela e já tinha me esquecido do almoço, dei meia volta, pois todos precisam de uma terceira chance, morrendo de medo, mas eu sou muito bonzinho mesmo.

- Vamos para a margem. Lá lhe contarei minha história e você vai compreender por que odeio gatos e cachorros.

Fomos à margem e comecei a contar a minha assustadora história:

Era uma vez eu quando era um filhote, eu e meus outros sete irmãos vivíamos em uma casa com um cão preto e uma gata muito peluda e rajada, bem em um furo na parede. Já estávamos peludinhos com uma pequena pelugem macia, quando a gata rajada enfiou suas patas com as unhas a mostra em nossa toca. Ela matou três irmãos meus e os devorou por inteiro. Depois disso fizemos uma toca no jardim em uma árvore oca, mas o osso do cachorro estava escondido lá! Então quando ele foi com seu grande fuço na toca, ele pegou mais dois irmãos meus e...e ...e ... Meu pai!!! BUÁÁÁÁÁÁÁÁ!!!!!!

- Mas que coisa horrível! Acalme-se, Camundongo. Vem aqui e me dê um abraço.

- Foi horrível, muito triste, todos morrendo por causa daqueles animais estúpidos!!!!

- Acalme-se! Já está melhor?

- Estou um pouco, snif, snif... Espere, esqueci completamente que estou fazendo! Preciso buscar o almoço! Adeus, garotinha, adorei te conhecer.

- Adeus! Boa sorte com o seu almoço!

Comprei variedades de queijos, muitos queijos mesmo, levei para a toca, engraçado, a lagoa tinha secado! Atravessei normalmente e cheguei à toca a tempo, estavam todos dormindo ainda! Fiz o almoço, dei para as crianças e tudo se resolveu. Ainda bem. Queria saber o que aconteceu com a garotinha, ela deve estar bem...

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