terça-feira, 18 de outubro de 2011

Eu e Borralheira- de Safira


 
Eu e Borralheira

         Olá, sou Peter. Devem estar achando que sou uma pessoa, mas não, sou um pássaro, um pássaro falante.
         Bom, vou contar a minha história, quando ainda era um ovo, caí do ninho, mas meus pais não viram.
         Então Elizabeth, uma fada madrinha, me acolheu e me deu o poder de falar com os humanos. Quando cresci, ela me disse:
         - Peter, você precisa ir embora agora, já cresceu e é independente.
         - Não, eu não quero ir embora. – eu disse.
         - Tá bom... Mas com uma condição: tem que trabalhar como meu assistente.
         - Como assim? – perguntou meio confuso.
         - Olha, eu trabalho muito, e não vou poder dar tanta atenção para você agora.
         - Mas por quê? Você cuidou de mim até agora...
         - Porque estou de férias, semana que vem eu vou trabalhar, e se quiser ficar comigo tem de ser meu assistente.
         E foi assim que eu virei um ajudante de fada madrinha. Em vez de ela ir até lá conceder os desejos sou eu quem faz isso.
         No meu primeiro dia de trabalho, Elizabeth seria fada madrinha de uma garota chamada Gata Borralheira. E eu fiquei lá só esperando que a menina desse um sinal para conceder meu primeiro desejo. Quando ela plantou ao lado do túmulo da mãe uma árvore e eu pousei no ramo dela e ela falou:
         - Como eu gostaria de ter flores para lhe dar, mamãe... – e suspirou.
         E em um vapt-vupt fui e trouxe rosas azuis para a Borralheira. E assim ela foi fazendo pedidos e eu concedendo, a cada dia que passava mais gostava dela, do jeito como ela gostava dos animais e ao mesmo tempo era gentil com todos a sua volta.
         Certo dia lá estava eu observando o movimento da cidadezinha quando o mensageiro do rei apareceu com o príncipe fazendo um convite a todas da residência da Gata Borralheira:

Gostaria que estivessem presentes no Baile Real do Príncipe todas as mulheres solteiras do reino para que ele possa escolher sua noiva.

Assinado Joaquim Lobato da Bacos, Conselheiro do rei



         A Borralheira ficou muito empolgada, mas a madrasta a proibiu de ir ao baile. Eu fiquei fulo da vida! A bruxa ainda fez ela catar três pratos de erbilha, que foram jogados no borralho, em duas horas. Então eu dei um assovio e de todos os cantos apareceram pássaros e colheram tudo, mas mesmo assim a madrasta bateu a porta e foi embora com suas filhas mimadas ao baile. A menina foi até o cemitério e me pediu:
         - Me cubra de ouro e prata.
         E em um segundo Elizabeth fez um vestido de ouro e prata, a Gata Borralheira o vestiu e foi para o baile, tornando-se irreconhecível. O príncipe só queria dançar com ela e nas duas festas quis saber sua identidade, mas Borralheira nunca a revelava. No terceiro dia, ela deixou o sapato sair do pé, e o príncipe pegou, mas ela continuou correndo até chegar ao cemitério, trocou de roupa e foi embora, mas o que eu não percebi foi que a madrasta viu tudo, me agarrou pelas asas e me colocou em uma gaiola. No dia seguinte, bem cedo, a madrasta veio até mim e disse:
-Vamos, seu pássaro miserável, fale logo como essa menina conseguiu um vestido tão bonito
Mas eu não dizia nada, ela me ameaçava de morte e lá estava eu, firme e forte, então ela cansou, me tirou da gaiola e quebrou uma de minha asas, por mais que a dor fosse imensa, dei um pulo e saí correndo pelos corredores da casa da Gata Borralheira. Quando  me deparei com o príncipe, me escondi atrás da cadeira da irmã mais velha da menina e, percebi que ela estava calçando o sapatinho de Borralheira. Então entndi tudo, o príncipe pegou o sapatinho deixado para trás, e agora quer ver se a menina misteriosa é uma destas. A que calçou primeiro foi a mais velha, mas seu dedão era muito grande, então ela o cortou, montou no cavalo do príncipe e foi para o castelo. Eu não podia fazer nada, minha asa estava quebrada, se tentasse avisá-lo não chegaria a tempo. Foi neste momento que dois pombos brancos pousaram na janela da sala, os chamei e pedi para eles impedirem o príncipe e, de algum modo, o príncipe volto, a mais nova também foi experimentar, só que seu calcanhar era muito gordo e ela também o cortou fora! E mais uma vez ele foi com a menina errada, de novo lá foram os pombos, então, quando finalmente a Borralheira colocou o sapatinho, o meu trabalho estava terminado. Como estava ferido, Elizabeth deixou o resto do trabalho para os pombos. Soube que as irmãs ficaram cegas e, a madrasta, teve que dedicar o resto de sua vida para cuidar de suas filhas.
         Minha asa ainda doía muito e a Gata Borralheira, grata pelo que fiz, me levou para o castelo e cuidou dos ferimentos, ela gostou tanto de minha companhia que decidiu ficar comigo para sempre, e até hoje eu vivo solto no castelo com a Gata Borralheira.



                                               FIM

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